Acerca da existência deste Blog...

A existência deste Blog é devido aos muitos pedidos de colegas e professores para a difusão dos temas abordados em sala de aula, com ênfase em filosofia, sociologia, psicanálise e outros tantos temas que desencadeiam uma masturbação cerebral, e que com sorte proporcionará um orgasmo múltiplo nas cabeças pensantes dos alunos mais concêntrados.
Sem mais....
Anderson Porto

20.10.11

A Filosofia como preparação para a Morte PARTE 2

Imortalidade
 
É neste sentido que a Filosofia con- duz a alma para a sua purificação e morte, isto é, o exercício filosófico conduz a alma a soltar os grilhões que a prendem ao corpo, faz que ela reflita sobre sua condição decadente no mo- mento em que está atrelada a este, observando um mundo dado como real, quando deveria estar contemplando o ideal no mundo inteligível junto com ou- tras almas. Assim, "o corpo é proposto à alma como uma matéria que ele deverá incessantemente modelar à sua própria semelhança, depois que ela própria tiver imitado as formas. A alma tem por incumbência introduzir em si própria e no corpo leis imutáveis da harmonia que reinam sem contestação no mundo celeste"


Deste ponto, a alma volta-se a si mesma recordando o que antes con- templou no mundo inteligível (reminis- cência) quando ainda não estava ligada ao corpo, já que este a engana e impede que ela contemple a verdade. A alma, atrelada ao corpo, recupera gradativamente a impressão claramente inculcada nela pela ação causal da forma, ou seja, a alma busca relembrar as impressões que lhe foram fixadas quando residia no mundo celeste e estava em convívio com as idéias.
 Em Platão, a imortalidade da alma pode ser demonstrada por meio de que, se a alma, após a morte do corpo, volta a contemplar as forma, ela sobrevive e o corpo perece. Logo, a alma é imortal. 


Pelo exercício da Filosofia, a alma pode voltar-se a si mesma, desligando-se do corpo e atingindo o puro, o eterno, o ideal - as formas
A Morte de Demóstenes, de Camille F. Bellanger. Para Platão, a morte não deve ser encarada com medo ou receio. Ela representa a possibilidade de encontro com a perfeição



Tudo o que existe deriva de seus contrários, como, por exemplo: o belo e o feio; o feio é uma privação da característica do belo, isto é, mantém certa distância da forma ideal do belo. Assim, não há a forma do feio, mas somente a forma do belo. Estendendo isso à alma, tem-se que a vida gera a morte e vice-versa, ou seja, a alma concebe vida ao corpo, este perece e a alma sobrevive. Logo, ela é imortal e indestrutível. No diálogo Fédon, Platão exprime uma demonstração acerca dos contrários que prova a imortalidade da alma do seguinte modo: tem-se que o número três é ímpar, já o número dois é par; o primeiro não é o contrário do segundo, mas o número ímpar é o contrário do número par. Logo, as coisas possuem em si os seus contrários, mas não os aceitam. O três não aceita a paridade e o dois não aceita a imparidade.

Desta forma, a prova da imortalidade da alma se estabelece considerando que o corpo aceita a alma, que lhe concebe a vida, sendo que o contrário da vida é a morte; porém, a alma não aceita o seu contrário, portanto, a alma é imortal. Além disso, Platão considera que: se o ímpar fosse indestrutível, elevando isto à alma, ela seria também indestrutível. Sendo assim, o conceito de imortalidade exclui a destruição (morte), portanto, a alma retira-se do corpo no momento em que a morte se aproxima. Logo, a alma é imortal e, não obstante, indestrutível.

Vida em ciclos


Do mesmo modo, encontra-se em Montaigne a afirmação de que "a morte é a origem de outra vida" , pois vivemos em uma circularidade, ou seja, viver para morrer, morrer para viver, um círculo de começo e fim que sempre se repete como as estações do ano, às quais Montaigne utiliza como metáfora para demonstrar a constância de nossas vidas estabelecidas em: infância, adolescência, idade viril e velhice do mundo. Montaigne explica que a morte de um corpo prescreve a origem de outra vida, o que equivale dizer que uma alma deixa um corpo para vivificar outro, afirmando, assim, a imortalidade da alma, em que um indivíduo morre para dar lugar a outro do mesmo modo que outro o fez.

Deste contexto, observamos que a alma só poderá contemplar o que an- tes havia contemplado quando se liberta do corpo, que é perecível. E, sendo imortal, alcança a pureza das formas e atinge o verdadeiro conhecimento. Assim, "[...] se alguma vez quisermos conhecer pura- mente os seres em si, ser- nos-á necessário separar- nos dele [corpo] e encarar por intermédio da alma em si mesma os entes em si mesmos [...] nos há de perten- cer aquilo de que nos declaramos amantes: a sabedoria. Sim, quando estivermos mortos [...] porque nesse momento a alma, separa- da do corpo, existirá em si mesma e por si mesma - mas nunca antes".


A alma de um monge, de Giovanni Battista Crespi. A alma, presa ao corpo, se degrada, estando impedida de contemplar as formas perfeitas. A morte é uma libertação da alma
O homem estará mais próximo da sabedoria quanto mais afastado esti- ver do corpo e, neste sen- tido, desfeitos os laços que o unem ao corpo, o homem atingirá a pureza da verdade conhecendo de maneira distinta aquilo que verdadeiramente é, ou seja, conhe- cendo as formas ideais das coisas que observa como sombras no mundo real. A Filosofia possui a função de libertar-nos e purificar-nos. Assim, é por meio do exercício filosófico que o homem pode alcançar o mundo ideal, pois a Filosofia busca a verdade, do mesmo modo que a alma tende a afastar-se do corpo para não ser corrompida e voltar-se a si mes- ma para alcançar o verdadeiro.

Em Platão, tem-se que a Filosofia busca persuadir as almas a se despren- derem dos sentidos, mostrando a ela o quanto é ilusório o conhecimento através dos olhos do corpo e recomenda que se voltem para si e confiem nelas mesmas,

aquele que busca a verdade deve, o quanto antes, libertar sua alma dos grilhões do corpo. isto é, buscar a verdade equivale a preparar-se para morrer.


Observando com os próprios olhos aquilo que é inteligível, necessário e verdadei- ro. Diante disso, podemos afirmar que a alma antes de se encontrar com a Philo- sophia, permanece agrilhoada ao corpo sem a possibilidade de soltar-se, sendo obrigada a apreender as realidades falaciosas e não podendo retomar por si mesma o caminho da verdade, ficando em plena insipiência.

A alma é mantida prisioneira do corpo, sendo corrompida pelas inclinações corporais, não podendo libertar-se por si mesma. Sabemos, todavia, que ela vivifica o corpo, visto que este é um instrumento da alma, como afirma Goldschmidt . Logo, o homem é inteiramente alma, pois o corpo (como instrumento) possui unicamente a percepção da experiência sensível, que faz a alma ser despertada para relembrar as percepções que obteve das formas enquanto não ligada a ele. Ou seja, os sentidos corporais fornecem o impulso para o conhecimento obtido por meio da reminiscência. Entretanto, este conhecimento é falacioso e, desta forma, aquele que busca a verdade deve, o quanto antes, libertar sua alma dos grilhões do corpo. Isto é, buscar a verdade equivale a preparar-se para morrer. Se a Filosofia conduz à libertação da alma e se é somente pela morte que o homem pode se libertar do corpo, Platão afirma que: "em verdade estão se exercitando para morrer todos aqueles que, no bom sentido da palavra, se dedicam à Filosofia, e o próprio pensamento de estar morto é para eles, menos que para qualquer outra pessoa, um motivo de terrores!".

Como é sabido, no diálogo Fédon observamos que Sócrates não está triste em perceber que sua morte se aproxima, ao contrário, ele está em profundo contentamento, já que com a morte ele contemplará a maior felicidade encontrando- se com as formas, com os velhos sábios, com as pessoas de grande caráter, com os bons homens. Sendo Sócrates um grande sábio, pode-se observar que sua alma não tem medo da morte, pois a alma de filósofo se encontra sempre em reflexão, isto é, sempre se distancia do corpo em busca da verdade eterna no mundo celeste.
Platão, por Giovanni Pisano. Platão condena os sentidos como sendo ilusórios. Ele afirma que só por meio do intelecto (representado pelo pensamento filosófico), o homem pode ter acesso ao verdadeiro




0 comentários: