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A existência deste Blog é devido aos muitos pedidos de colegas e professores para a difusão dos temas abordados em sala de aula, com ênfase em filosofia, sociologia, psicanálise e outros tantos temas que desencadeiam uma masturbação cerebral, e que com sorte proporcionará um orgasmo múltiplo nas cabeças pensantes dos alunos mais concêntrados.
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Anderson Porto

20.10.11

A Filosofia como preparação para a Morte PARTE 3

Sem Medo

Em Platão, a alma do filósofo é definida da seguinte forma: "[...] ela acalma as paixões. Liga-se aos passos do raciocínio e sempre está presente nele; toma o verdadeiro, o divino, o que escapa à opinião, por espetáculo e também por alimento, firmemente convencida de que assim deve viver enquanto durar sua vida, e que deverá, além disso, após o fim desta existência, ir-se para o que lhe é aparentado e semelhante, desembaraçando- se destarte da humana miséria!".

A alma nunca terá medo de separar- se do corpo e, segundo Montaigne, Cícero afirmava que filosofar é preparar- se para a morte, pois o estudo e a contemplação fazem a alma sair do corpo, logo ela se assemelha à morte. Tendo sabedoria aprendemos a não ter medo da morte. Para Montaigne, não devemos temê-la, pois feito isto, ela se torna um tormento e uma ameaça, porém, devemos sempre estar preparados para recebê-la, já que a morte nos ataca subitamente e nunca podemos prever a nossa hora.

Morte de Sócrates, por Jean François Pierre Condenado à morte pelos atenienses, Sócrates não se mostrou triste ao ver que tal momento se aproximava. Amante da sabedoria, via na morte a chance de se encontrar com sábios e com a verdade
Sendo a morte algo inevitável, é preciso meditar sobre ela, aprender a recebela  sem grandes constrangimentos, pois, encarando a morte, o homem acaba se acostumando a ela. Se aprender a habituar-se a ela, sempre pensar nela, tendo a morte presente a todo o momento nos pensamentos, o homem estará pronto para morrer, sendo este o esperado fim . "A meta de nossa existência é a morte; é este o nosso objetivo fatal. Se nos apavora, como poderemos dar um passo à frente sem tremer? O remédio do homem vulgar consiste em não pensar na morte".


Pós-morte

Em todos os momentos da vida, o homem não pode deixar de pensar na morte, mesmo em momentos de puro deleite, pois ela pode o atacar de diversos modos a qualquer instante. Entretanto, com a citação acima, quem não pára de pensar em seu fim, nunca aproveita o que a vida lhe proporciona. Neste sentido, Montaigne acrescenta que a própria natureza se encarrega de familiarizar o homem ao esperado fim, visto que na vida ele aprende a receber todos os tipos de males e superá-los. O homem caminha para a morte de forma tênue quase que preparado para ela e aquilo que só ocorre uma única vez não pode ser tão grave assim, pois a morte o livra daqueles males que recebe durante a vida e viver pouco ou muito não faz diferença, já que do mesmo modo deixará de existir

Com efeito, tanto em Montaigne quanto em Platão, a morte é inevitável e preferível, visto que ela livra o homem dos males da vida e, não obstante, das sombras do ideal. Logo, é inevitável não pensar na morte em detrimento da vida, mediante o fato de que ela conduz a um mundo de verdade e felicidade. Porém, não se pode tirar a própria vida, cometer violência para consigo próprio, pois o homem é propriedade dos deuses, somente eles possuem o poder de decidir sobre a vida dele, visto que ele vive em uma prisão e não pode se soltar por si só.

Deste contexto, diante do fim, como saber para onde irá o homem? Qual é o destino da alma? Neste ponto, a vida de cada um é responsável pelo próprio destino, ou seja, as ações terrenas são levadas em consideração como meio de entrada no mundo das almas (Hades). Por conseguinte, as melhores almas serão conduzidas ao melhor lugar destinado àquelas que cultivaram a justiça, a temperança, a coragem, isto é, ornamentaram-se com aquilo que é próprio delas.
Marten de Vos, Retrato de Antonius Anselmus, sua esposa e seus filhos. Para Montaigne, a vida é uma circularidade, um ciclo constante e repetitivo, como as idades: criança, jovem, adulto e velho. A morte é o fim de um ciclo e o início de outra vida

Segundo Goldschmidt, quando uma alma pratica o mal, ela o faz a si mesma, ou seja, tudo o que é feito durante a vida determinará se a alma merece ou não um lugar de plena felicidade (ao lado das formas), pois a alma que outrora foi corrompida pelo corpo vagará no mundo inferior até que se ligue a outro corpo merecedor do mesmo mal ao qual ela estava entregue.

Para Platão, a alma que viveu de forma sábia e pura, encontrará no mundo das al- mas os deuses que servem como companheiros e guias das mesmas, tendo como residência a morada adequada conforme sua vivência anterior, sendo que essas almas foram purificadas pela Filosofia e colocadas no reto caminho da verdade.

a alma é mantida prisioneira do corpo, sendo corrompida pelas inclinações corporais, não podendo libertar-se por si mesma

Existem dois caminhos que podem ser seguidos pelos homens para que suas almas ocupem os seus devidos lugares: cultivar os prazeres do corpo ou despojar-se deles. No primeiro caso, o homem que alimentou os prazeres corporais não conduzirá a sua alma ao lugar da eterna felicidade. Ao contrário, no segundo caso, o homem que se despojou dos prazeres do corpo saberá com certeza o caminho de sua alma. Sendo assim, os indivíduos devem dedicar-se ao exercício filosófico, pois somente este pode libertar a alma do corpo que ao longo da vida a depravou retirando-a do reto caminho que conduz à morada dos deuses.


A Duquesa Feia, de Quentin Massys. Platão usa a teoria dos contrários para demonstrar a imortalidade da alma. O feio seria a privação da característica do belo. Assim como a vida gera a morte sem deixar de existir
Diante destes fatos, a morte está presente em todos os passos do homem, em todos os lugares e ele só pode salvar a sua alma alimentando- a com aquilo que há de melhor em conformidade com as formas, e não deve minimizar a dor da perda utilizando-se de expressões que encobrem o verdadeiro sentido da palavra morte, como os romanos diziam no momento de sua chega- da: "parou de viver"; caso este que, em nossos dias, não é diferente, quando se utiliza a expressão: "partiu desta para melhor", buscando aliviar a dor de alguém que perdeu algum ente querido.

Não é de se duvidar que a morte cause fraqueza, mas mesmo assim o homem deve estar preparado para ela. Mas não deve deixar de fazer certas coisas em detrimento de outras devido ao peso da morte. Deve conviver com ela e aprender com ela, para que, diante dos momentos da vida, aproveite-os como se fossem os últimos, sem temer o que o espera. Como vimos em Platão, com a morte a alma contemplará novamente a verdade, o mundo perfeito (ideal) e, desta maneira, façamos como Sócrates, fiquemos felizes com o fim que nos espera.

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